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NunCA mORRe

Imagem do autor do blog Provocando a escrita. Estrada da cidade de Bastos-SP. 

 A criança que existe dentro de nós nunca morre, mesmo quando nos tornamos adultos. Os medos, as fragilidades, os anseios e a maneira como vemos o mundo permanecem... O que muda é o arquétipo, a forma física, os traços, e muitas das vezes a gente amadurece alguns conceitos. Há pouca diferença entre a criança ansiosa pelos materiais escolares do começo do ano e o adulto ansioso para entrar novamente em sua nova sala de aula, mas agora, como professor. 

A criança que existe dentro de nós não nos perdoa, ela se acentua toda vez que sofremos uma decepção. As decepções não costumam surgir com frequência nas nossas vidas, mas elas oportunamente aparecem, e consigo, vem a dor, a frustração, a raiva, a vontade de gritar aos quatro mundos que tudo que foi planejado não será mais executado. (In)felizmente, a criança entremeada em nosso cerne se apresenta, porque nos sentimos desrespeitados, ego fragilizado, e procuramos colo, alguém que possa nos pegar, dar um delicioso abraço e dizer: "Vai ficar tudo bem". 

Geralmente a frase que mais ouvi nessa vida foi essa, "Vai ficar tudo bem", talvez porque eu tenha sofrido muito nos últimos tempos... As pessoas que me apareceram precisavam me dizer para que eu não transbordasse, para que eu pudesse olhá-las nos olhos marejados e as vissem para além de mim. Para que eu pudesse ver além daquilo que estava no meu coração, onde a criança birrenta remoeía a dor e trazia à tona a minha pior versão. 

Todos somos infantis em menor e maior graus, alguns adultos aprendem desde cedo que precisam esconder suas emoções, apinhá-las em subterfúgios escuros e, por grande tempo, esquecê-las; daquelas que os tornam humanos. Por esquecê-las, acabam machucando àqueles que sempre fizeram questão de externalizá-las, de colocá-las para fora como um bebê que chora à espera de uma mamadeira cheia de leite morno pronta para saciar a dor de seu estômago semivazio. O bebê chora à dor, a mercê de algo que nunca teria contato: a verdade. 

A criança que existe dentro de nós nunca morre, torno a te dizer que por mais que tenhamos 30 ou 40 anos, sempre teremos uma boa imagem remanescente dos dias ensolarados da infância, dos churrascos na casa dos avós, e da comida caseira de nossa mãe, com aquele amor temperando todo o nosso coração. E, por mais que tenhamos consciência das fragilidades da infância, sempre que forem acionadas, furacões poderão ser revisitados, a depender de quais gatilhos tais estímulos enobrecerão na vida adulta. Ou seja, a criança interior não morre porque você está cada vez mais perto da morte, e posso te dizer que é ótimo que ela se mantenha persistente, vindo e ressurgindo, isso mostra a você e aos que estão ao seu redor que existe humanidade nesse coração.  

A humanidade é outra coisa em falta na humanidade. Pense sobre isso, cerque-se de pessoas que lhe tragam a criança feliz, contente e sincera à tona, aquela que dança numa cozinha simples, que pega as mãos de quem mais você ama e simula uma valsa descompassada... Talvez essa seja a maior e melhor prova de amor, a mais autêntica dessa fase. O amor acolhe essa criança, e lhe torna mais resiste à fome sem lhe negar alimento. Ame sua criança e emerja-se n'um adulto humano, confiante diante das possibilidades que essa fase poderá te oferecer!


Obrigado por ler até aqui! 

*Texto escrito ao som da canção Samson, de Regina Spektor. 

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