A roda viva... Muito além de uma roda, a vida é cheia de percalços - estranhos caminhos bem tortuosos. Cheia de rotas que muitas vezes nos fazem repensar se realmente estamos em um "globo". O relevo nos faz entender os ciclos que abrimos e fechamos em nossas vidas. Temos muitos deles abertos continuamente, em contrapartida, outros estão se encerrando. O mais importante disso tudo é sabermos aproveitar cada um deles de forma a coletar os saberes necessários para os ciclos futuros.
Cada ciclo que nos contempla traz consigo muita inspiração, traz benevolências, maleficências; traz-nos desesperos, sorrisos, desejos, cenhos, apertos... sonhos, muitos dos quais nunca serão realizados. Porém, a gente tende acreditar em cada um enquanto vivemos nossos momentos. O que a gente não imagina é que eles podem se estagnar, ruir, desaparecer, e de forma ininterrupta nos deixar às mínguas.
Encerrar um ciclo é uma dor. Talvez porque não fomos ensinados, ainda, a lidar com os fins. E, de verdade, cada um sofre à sua maneira cada final. Não é sobre tolerar a dor do outro, mas é ter empatia sobre como o outro sente a dor. Como o outro alberga os sentimentos no peito, e como faz daquilo uma volúpia de emoções.
Dentro de cada momento que vivemos, segundos são intensos, minutos são fabulosos, as horas se tornam uma vida inteira, e nos damos a eles - a todos! Uma gama de paisagens, de cenhos felizes e tristes nos transpassam à mente, e agora deitamos na relva simples e apenas temos recordações de tudo aquilo que passou. O que podem ser boas; porém, em grande reluta, tornam-se sofrimento.
A melhor maneira de entender os ciclos é saber que todos eles, por mais estranhos que sejam, terão um fim. E quando a gente menos espera pode ser que seja o encerramento. E, por mais que seja doloroso, é melhor deixar ir. A dor da perda afetiva, dos sonhos que foram desmantelados, da reclusão dentro de si pode ser enorme. Contudo, deixar ir permite que a ciclagem ininterrupta da vida se refaça, e o refazer-se é uma fase importante do encerramento de qualquer quebra. Tudo em nossa vida pode ter conserto. O que não tem conserto pode ser remediado e seguir em frente até que novos reparos sejam necessários. E a cada reparo um ponto de cura se perfará.
Dar-se o tempo da cura é muito importante quando temos que lidar com os momentos que se esvaem. Ruir-se à matéria é a pior circunstância que possamos adotar em meio às angustias. Evitemos! - Não valeria a pena. Temos muito mais a oferecer quando estamos efervescentes; é melhor adotarmos uma postura menos tóxica para conosco, mesmo quando tudo se liquefaz entre nossos dedos.
Deixe ir a sensação de morte... Deixe ir a sensação de posse... Deixe ir quem nunca esteve... Deixe ir o conserto do carro, dos móveis... Deixe ir os momentos que já não farão mais parte de sua vida... Deixe ir os sentimentos que te amargam a língua todos os dias... Deixe ir a mentira. Deixe ficar a sua verdade, a sua motivação, a sua paz... Deixe ficar a sua bondade, o seu ser, a sua identidade, a sua alma... Deixe que você se reconstrua e se projete para novos ciclos... Deixe que o mundo tome conta das energias poluidoras... Deixe ir.
Em um momento menos predatório perceberemos que o mundo romantizado que criamos se foi, e que agora estamos mais vívidos e sábios sobre aquilo que era o ontem. O passado nos tranca e nos sequestra; talvez ele seja o maior algoz de nossos sonhos, porque a ele já não se soma, só se retira. Os ciclos precisam do passado para, unicamente, nos ensinar a pular os obstáculos que já conhecemos.
Obrigado por ler até aqui!
** Este texto foi escrito enquanto o autor (Bruno Silva) apreciava a música da intérprete e artista Tina Turner, The Best, referindo-se à uma verdadeira antítese à letra dessa canção.
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