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Já sei namorar?


É despir-se de si. É sair da sua própria ambição e ambicionar outras eventualidades, ou, outras maneiras de viver. É tentar ser o mais plausível possível. É empenhar-se em soluções para problemas internos, seus, do/a outro/outra, e burlar tudo isso em uma centrífuga, para possivelmente separar as situações e seguir. É... É bem mais complexo do que imaginamos.


Relacionar-se consigo parece-me o primeiro passo quando falamos de relacionamento amoroso com outra pessoa. Mais que clichê, o "amar-se antes de tudo e todos" é, sem dúvida, primordial. Nunca podemos alcançar um relacionamento prazeroso para todos os lados, se deixarmos o nosso "amar-se a si mesmo" fora disso. Amar-se é muito amplo. Então, é necessário que procuremos entender que o amor por si vem do prazer de existir sendo quem se é, pelas qualidades e pelos defeitos.

Porém, mesmo quando nos amamos, os relacionamentos podem sofrer intempéries que saem de nossos controles. Um deles: a traição. Uma terminologia criada pelo ser humano para denotar uma falha. Trair (o ato) não é algo, assim, do mais grave se pensarmos que todas as pessoas têm em si circunstâncias internas e preceitos que as movem (aliás, julgar sempre foi mais fácil que entender a realidade alheia). Porém, o ato de trair outra pessoa relaciona-se com a quebra de regras. Assim como em toda a nossa sociedade, vivemos enclausurados em regras. Trair é romper uma delas, e ao fazer isso, consequências são vividas. Muita gente condena quem trai; outras, dão razão às traições. O ponto tênue de tudo isso é que amar alguém tem apenas uma regra muito clara: respeitar as regras pré-estabelecidas entre os indivíduos envolvidos (e essas regras são criadas de forma livre). 

Quando traímos uma amizade, por exemplo, seja ela antiga ou atual, tentamos a qualquer custo elevar-nos a graus de condenação, porque já esperamos que guilhotinadas surjam de todos os lados. Isso só não acontece quando quebramos regras que eram desconhecidas por nós até aquele presente momento. Portanto, trair pode ser relativo. Ela pode ser ou não ser. Existir ou desistir. Contudo, a traição gera conflito; muitas vezes, desvinculações eternas.

Diante disso, pensamos nas possíveis causas de uma traição, e uma delas é o ciúme. Ter ou estar em um  relacionamento ciumento, no qual um dos parceiros ou parceiras sejam muito ciumentos ou ciumentas, traz alguma revolta à situação. Não é surpresa para ninguém que tudo que é demais cansa e não faz bem, da mesma forma que tudo que é pouco leva à isquemia. 

O ciúme redobrado não é um bom sinal... Na verdade é uma clara evidência de pouco amor. Quem tem muitos ciúmes da ou do companheira(o) possivelmente não o ama como acha que isso ocorre. É mais uma vontade de impedimento, que qualquer ato de proteção ou demonstração de carinho. Lembre-se do que os poemas, em sua maioria, diziam sobre o amor "Amar é estar livre, é libertar", e assim, se não o for, possivelmente, não é amor. É outra coisa.

Relacionar-se à outra pessoa é sim um bicho de algumas cabeças. Não venha dizer que não, porque as coisas não são apenas "Estamos namorando"; "Estamos em um relacionamento sério". Estar com outro ser é estar dividindo momentos importantes, momentos que eram para serem seus, apenas; mas que você, cordialmente, quis desmembrá-los, inserindo mais uma figura para torná-los mais ricos, compartilhados, e, possivelmente, inesquecíveis. É abrir mão para se ter em mão outras situações, outras risadas, outras ternuras - levando-se em conta que ao estarmos solteiros, ou sozinhos, também estamos em um relacionamento conosco, e que este deve ser leve e bom. Do contrário, qualquer outro relacionamento com outros indivíduos será desgastante e perturbador.

Costumamos entender o relacionamento como infinito - o tradicional "Felizes para sempre" surge das cinzas em nossas cabeças algumas vezes, querendo ou tentando nos fazer acreditar que isso é possível. Sinto muito, não é! O relacionamento é romantizado, encarnecido, enraizado e venerado em nós, desde que somos crianças. Infelizmente, esse tipo de relacionamento é só uma das maiores farsas que existe na humanidade; para alguns é um tremendo choque de realidade saber disso - mas melhor tarde, ao invés de nunca encararmos a verdade. E não há nada que possamos fazer para mudar isso, porque, primeiro, a vida não é infinita; segundo, porque, a vida não é sempre "apenas momentos de glória" (poderia elencar o terceiro item, mas já está ótimo). Quando menciono que a vida não é infinita, quero deixar claro que as crenças na vida após a morte tem um pequeno erro terminológico: não é a vida que é eterna, é a nossa existência quanto alma que é eterna. A vida é apenas um palco em que nossa alma perambula e que tem fim, e que poderemos (sim ou não - quem acredite ou não) passar outras temporadas em outros mundos, outros universos, ou outras atmosferas. Portanto, achar que o relacionamento nessa vida é eterno é um erro. Ela se dissipa. A segunda acepção é clara e óbvia, e quem viveu o mínimo de uma realidade adulta entenderá que viver na sociedade é um verdadeiro caos. Há brigas, há discussões, há revoltas, há trabalho, há dor, há muitas situações que nos entristecem, e outras que nos alegram; portanto, não podemos afirmar que um relacionamento se pauta em "Viver felizes para sempre". Isso é uma baita de uma utopia. 

Desse modo, namorar, casar, relacionar-se com outras pessoas é uma situação que nos leva a refletir nossa própria existência. O partilhar e compartilhar são bem usados nessas realidades, porém, muitas são irreais ou falsas. Os relacionamentos, atualmente, precisam ainda lidar com outro algoz nesse contexto: a Internet. Ela com certeza já destruiu muitos relacionamentos, e fez muitos outros (a Internet é bem dicotômica, não é mesmo?). Dá até para entender que existam pessoas com ciúme exacerbado, já que em apenas um "clique" é possível trair uma pessoa, ou se apaixonar por outra e viver muitas vidas em apenas um micro-mundo. Confesso que esse tipo de situação me reverbera angústias. 

No entanto, a única certeza que precisamos ter é: leveza, prazer e paz. São três consequentes sentimentos e sensações que um relacionamento precisa trazer a si na maioria dos momentos (óbvio, nem todos os momentos serão apaziguadores; mas estes não podem desfazer toda a história que já se criou e que já se viveu - a menos que sejam desentendimentos graves e reais, plausíveis de términos). Do contrário, relacionar-se é uma atividade que pode ser prazerosa, pode ser leve, e que pode te trazer paz, basta você se conhecer, se entender, buscar entender o outro e praticar a empatia.
Para alguns, quase impossível.


Obrigado por ler até aqui!!😊


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