Livro
Matéria Básica
De Márcio
El-Jaick
Livro que li em 2014, e que agora tive a curiosidade e vontade em revê-lo. Seguem várias citações do livro.
Conta a história entre Pedro e Bruno — um
romance gay. Um livro que nos alerta para os dramas de uma relação; e os desacertos
que a nossa própria vida traz.
“(...) sexo sem envolvimento emocional é muito mais
sexo, mas exige boa estrutura interna e amor próprio sobre-humano entre um e
outro ato, às vezes durante.”
Nota-se pela passagem acima, que o autor
adentra um tema interessante e ressalta em trechos como este que praticar sexo
requer consciência de si, do que se quer; daquilo que se pretende, ou se busca.
Sexo por sexo é algo que pode, e deve, ser praticado, mas não se pode inferir
que uma relação sem muitos enraizamentos cumpra um papel emocional, caso se
busque por isso. Sendo assim, é importante saber distinguir o que é sexo do que
é amor com sexo, ou o que é apenas amor.
“Sempre me encantou trepar ao ar livre, com aquela
paisagem exuberante à volta. Sentia-me privilegiado, embora isso também pudesse
ser visto como algo terrível: o espaço e as circunstâncias deixadas por uma
sociedade heterossexual preconceituosa para o sexo (que só poderia ser
clandestino) entre dois homens. Mas eu
considerava tudo aquilo um caro privilégio. Sexo anônimo em meio à paisagem. O
mar, o verde, a chupada quase poética.”
Nesse incrível trecho, percebe-se a banalização
da homossexualidade; como ela é deixada em escanteio e como isso marginaliza
essa orientação sexual. Ter que ficar com alguém escondido por conta do
preconceito que a sociedade impôs é desumano, uma crueldade. E mesmo assim,
vemos pessoas do mesmo sexo tentando expressar seu amor, tentando ultrapassar
essas barreiras construídas pelos outros, porque no fundo todos sabemos que
somos normais e que toda forma de amor é uma maneira de amar, seja ela gay,
lésbica, poliamor, hétero, entre tantas outras maneiras. A época atual precisa
de novos pensamentos, de novos olhares; é ultrapassado (demais) a concepção que
ainda existe na cabeça da maioria (aquela relacionada ao tradicionalismo),
infelizmente.
“Foda-se a ausência de um sentido maior. Foda-se o
conceito clássico de felicidade. Foda-se o mundo plástico das utilidades do
lar. Fodam-se as famílias unidas em torno do peru de fim de ano. Fodam-se as
esperanças que transferem de pai para filho e perpetuam uma eternidade de
frustrações. Foda-se o mundo ponderado das realizações profissionais. Foda-se
Hollywood. Fodam-se as uniões estáveis. Fodam-se os manuais de etiqueta.
Foda-se o mundo encantado de Caras.
Despeito? Foda-se.”
A passagem já nos traz uma carga exacerbada
de nervosismo e irritação que a personagem se encontrava neste momento e isso
se traduz em um trecho muito interessante, pois ele relata aqui exatamente seu
desapontamento com o mundo e com sua própria vida, e como tudo tende a caminhar
pelo o que as pessoas (a massa) querem que seja. Somos ditados. Escritos em
linhas da maneira como os outros querem que sejamos. O nosso fracasso perante o
que a nossa sociedade diz ser certo ou errado nos coloca no pior dos patamares.
E será que somos mesmo essa figura de desrespeito?! Será?! Merecemos ser ouvidos,
e merecemos ser o que somos.
“(...) acho que obsessão pelo corpo e pela juventude
é a praga da homossexualidade, mas estou profundamente arraigado nessa cultura
homossexual e é impossível ficar sereno ante a demolição que nos provoca o
tempo.”
Veja como o mundo/universo homossexual é
caracterizado pelo autor neste livro. Há sempre um padrão de beleza a ser
seguido, e quem fica aquém não é interessante o suficiente para ser paquerado,
ou se relacionar, mesmo que seja sexualmente (sexo rápido).
“Inveja, aliás, é esporte que adoro praticar, embora
ela desenvolva em excesso os músculos da baixa auto-estima.”
Uma opinião do autor sobre inveja. Reflita!
“O chato do sexo é que não acaba nunca. A sede não
termina. E parece que, quanto mais temos, mais queremos.”
Uma opinião do autor. Reflita você também
sobre, o que acha?
“Quando se dá conta de que gosta de meninos, o garoto
homossexual se imagina uma menina presa em corpo de menino e imagina que deve
agir como menina, tendo nisso prazer
genuíno. Ele pode vestir roupas da mãe, colecionar papel e carta e brincar de
boneca, e invariavelmente sonha com o menino que vai fazer dele um “mulherzinha”,
porque não vê nenhuma possibilidade além disso.
Mas, com o passar do tempo e com o descobrimento dos
muitos prazeres do mundo gay, reavalia inconscientemente suas preferências e se
posiciona muitas vezes de maneira diversa daquela que fantasiava na infância ou
no começo da adolescência.”
O autor traz todo esse trecho em uma discussão
que faz sobre o porquê dos gays se verem como inferiores aos meninos héteros —
e a busca na adolescência por um namoradinho que contemple características heterossexuais.
É uma sugestão, em que ele mesmo não sabe se essa teoria tem algum fundamento.
O caso é que muitos gays acham que só porque são gays têm que se inferiorizar,
ou se tornar uma figura afeminada, pois é imposto à sociedade que tudo que é
efeminado é inferior (estão aí as mulheres, que são sempre julgadas e passam
por exacerbado machismo). Sendo assim, o gay nasce com esse pensamento de que
ele não pode mandar, de que não pode ter uma posição austera, ou de que deve sempre
obedecer ao homem “mais macho”. Infelizmente, quando o tempo passa acabam tendo
um colapso mental por descobrirem que ser homem gay também se refere a ser
homem, e ser tal não significa ser “machão”, mas ser dotado de inúmeras
possibilidades — dentre elas as possibilidades sexuais.
“(...) nada será perfeito (...). Parecia dizer “isto
é o melhor que posso fazer” e não se preocupava com o fato de que talvez não
fosse o suficiente.”
É uma importante frase para levarmos para a
vida, e seguirmos esse pensamento. A personagem retratada aqui é uma amiga de
Pedro, da revista em que trabalham; ele a cita como um exemplo no sentido de que
é importante a gente não se preocupar se estamos fazendo melhor do que os outros,
mas se estamos fazendo o nosso melhor a respeito de algo, e isso já nos basta.
Pensemos nisso mais vezes! — desconstrua essa ideia de competição induzida pela
meritocracia (capitalismo).
Bom, o livro traz inúmeras frases que nos
inspiram, mas as deixarei para que você as consuma!
O livro trata de dramas que um quarentão gay
sofre por se ver só, por olhar para traz e notar que pouco construiu em sua
vida; por se comparar exacerbadamente com os outros; enfim, alguém como nós;
eu, você, eles, todos temos dramas... E com certeza, tudo isso afeta nossas
relações, nossa maneira de lidar com as pessoas, de amar alguém (quando o
conseguimos).
Matéria Básica, de Márcio El-Jaick, é sem
dúvidas um romance muito bom e com uma excelente bagagem de conhecimentos e
vocabulário que o fará destrinchar o livro em apenas um dia!
Boa leitura!
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