Era um olhar surpreendente. Seus olhos pretos fitavam-me. Comia-me com os pares. Seu cenho, quase defronte ao meu, deixava-me numa situação constrangedora - ficava um pouco envergonhado. Eu não sabia pr'onde olhar; e se olhava. A única coisa que eu notava era a reciprocidade - era tão bom; tão gostoso sentir alguém, assim, de tão perto. Um rubro me fazia presente, em face ao detrimento de um aperto que me consumia - ou eram correspondentes. Eu já não sabia mais se gesticulava, ou se continuava a olhá-lo parado. Notei, enfim, que estava numa paquera, numa troca de desejos, mesmo que sem me aboletar em seu corpo e me deitar fogosamente em seus braços. Era incrível sentir aquilo; tudo o que mais queria era detê-lo, e apertá-lo contra meu calor e brandir em uma cama (talvez nem precisasse ser uma), aspirar e eclodir toda a vontade que havia no meu peito.
Não sei se as pessoas que estavam ao nosso redor notaram tal momento (e se notaram, isso não me importa). O que importa é que eu estava ali, quase entregue já a um desejo que me afogueava as vísceras; minhas mãos ficavam geladas e tão pálidas quanto as minhas pernas bambas. O que era aquilo? Eu sabia... Sabia muito bem, mas não queria dar o braço a torcer. Na verdade, eu só queria apreciar e aproveitar aquele momento. Sentia-me solto, leve. Uma emoção me transcorria o coração, e eu percebia como se minha vida estivesse ainda mais exuberante; meus dons pareciam florescer; minhas atitudes sumiram.
Maravilhado! Estava deveras entretido naquele espaço, naquele tempo; em que tudo parecia parar. Tudo estático e eu paquerando de fato alguém que me correspondia no olhar - no semblante; eu tive várias vezes a sensação de que seria melhor chorar, mas contive-me, não quis deixar transparecer tanta emoção para que ninguém ali ao redor fizesse alguma brincadeira injuriante de péssimo momento e escolha. Acho que ninguém sentira tamanha sensação e, eu, a estava sentindo muito.
Aí, aqueles olhos, eu jamais vou esquecê-los. Jamais. O que eu mais quis naquele instante foi selar um beijo de longa data.
Obrigado por ler até aqui!
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