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Simplesmente Mário

Eu, Mário, um cara muito deslocado, acabrunhado, tímido... E lá estava ela a me esperar. Ah, bom se fosse. Nunca, mas nunca mesmo ela estaria a me esperar. Negra, corpão, cabelos drapejados e bem armados, daqueles que cheiram bem e seduzem qualquer um que passa perto. Ah, se essa negra fosse minha. Mas não tenho ímpeto algum, até mesmo nas palavras a eloquência é zero.
Não sou tímido porque quero, mas sim, porque uma força maior, da qual desconheço nome ou espécie, aviva-se me mim. Ela me domina de uma maneira intensa e me faz seu refém sem que eu perceba. Incrédulo. Terrível. Insensato isso. Eu me pergunto todos os dias: Quando ei de arranjar uma namorada? Ai me vem a triste realidade: deste jeito, desta maneira? NUNCA! Nunca que arranjaria uma sendo assim. Sei que preciso mudar, alcançar um estado de compreensão com o meu eu. Mas, como mencionei, não é fácil.
Dia da semana, eu paro e olho o relógio, nele as horas avançam mais rápido do que qualquer coisa que existe. É tão mais rápido do que o piscar de olhos, pois enquanto pisco uma andada rápida o ponteiro já deu. E isso me preocupa, se o tempo passa e eu não arranjo ninguém, fico a mercê do mundo dos desesperados. Triste minha realidade, eu sei. 
Não vou dizer minha idade aqui, apesar de imaginar que você deva estar se perguntando, mas não vou falar exatamente para resguardar essa curiosidade inata que exite em todo ser humano. Mas posso garantir uma coisa, sou velho o suficiente para dizer que já passei da hora de namorar. Minha mãe? Ah, minha mãe nem me fala mais nada. Já fui taxado de tudo, de bichinha, de mulherzinha, gay descaradamente, mas nunca pararam para me ouvir, ou sei lá, entenderem minha realidade, os meus motivos e as angústias que carrego aqui no peito. Digo às vezes para mim mesmo, "Mário você morrerá solitário, sozinho". Toda vez que penso nisso, uma depressão me atinge, fico mal duas semanas, até voltar os pensamentos nos eixos; o que não é muito fácil. Uma pessoa descompensada e, ainda, sem amor, sofre para ter uma mente sadia. Terrível, acredite.
O pior foi uma velhinha um dia na estação de trem daqui da minha cidade, ela me parou, olhou para mim, e disse ousada:
- Você parece-me bonito, meu rapaz. Tem namorada?
Eu meneei a cabeça indicando que não, mas já morrendo de vergonha do que ela diria pós-pergunta. Então ela me surpreendeu:
- Eu sabia que não tinha. Com essa cara de bocó, nem eu, filho.
Chorei um mês. Sério! "Nem eu, filho", esta frase entrava no meu cérebro e ali estacionava, parecendo um carro fundido que não tem mais jeito de movimentar. A psicóloga cansou de mim, era todo dia nos conselhos e o mais interessante que nada surtia resultado. Ai como eu me odeio.
Se você estiver lendo isso agora, com certeza, estará dando risadas de mim, eu sei. Chamando-me de o Mário fracassado, o bocó. Mas saibam que isso me corrói, porque nem mesmo a vida foi boa comigo, e se um dia me tornar um marginal, ou sei lá, um bandido, desses que matam, estupram e esquartejam, não venham me dizer que eu não avisei.
Bom, deixe-me dormir, agora, que já é tarde e amanhã tenho mais um dia de trabalho para me tirar dessa melancolia interminável e que me deixa desvairado de tédio e arrependimento de ter nascido Mário, assim como eu nasci.

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