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SENIL

Há um medo em comum às pessoas: o de ficar velho. Mais eufemizado, o de embrancar. E, Por quê?




Envelhecer traz consigo muitas preocupações e vai em desencontro com a beleza. Sim. Talvez você, quanto eu, não tenhamos notado, mas a cada segundo que passa, tornamo-nos mais velhos, e com este tempo, que rui e se esvai em preciosos números do relógio, vem a nossa experiência. É uma facada abrupta, eu sei.

Esta faca é de duas pontas, já que enquanto crescemos acerca do nosso conhecimento da vida, rugas aparecem (e cá entre nós, às vezes parece que as rugas chegam mais rápidas que todo esse arcabouço de saberes, que dizem por aí que nos tornamos). Contudo, generalizar essas duas vias é condenar todo mundo a um poço de rugas e a uma genial inteligência à melhor idade. Todo caso é um caso, e nem todo mundo amadurece conforme a idade passa ou obtém rugas enquanto os números se esvaem.

O que quero chamar atenção aqui é: envelhecer dá medo. Temos um receio sobre se vamos estar bem quando chegarmos aos setenta, oitenta, noventa, e se vamos chegar! Já parou para pensar?... É uma idade e tanto, não é mesmo?... Com todos esses anos na minha escala de vida, eu seria a pessoa mais bem resolvida, mais bem compreendida, e, talvez, mais bem respeitada. Será?! Será que a velhice nos dá mesmo esse poder todo de destrezas, de espertezas, e consigo, toda uma gama de tolerâncias, e atrocidades, já que passamos por tantas coisas, tantos momentos; afagos, medos, crises... e deixamos tantos desejos para trás (?).

O medo que vem ao ver que sua idade só aumenta é aquele relacionado à perda da juventude, da beleza. Tudo aquilo que é imposto na sociedade é para os jovens. O mocinho musculoso é bonito, os cabelos pintados são comercializados - são bem vistos pelas pessoas. O sucesso de uma nação está atrelado à sua idade, a sua posição mental diante às coisas que o cerca; a informação e a tecnologia é feita para eles, os juvenis, as crianças, os de pouca idade. O mundo é dominado por eles. E o que resta aos senhores e senhoras deste mundo? O respeito. Chegará o dia que a grande beleza que nos será atribuída é a do "ele é velho, ele merece respeito". Como se fosse apenas isso o que quiséssemos (ou, o que eles quisessem), como se isso não fosse obrigatório a todas as faixas etárias. 

Ser ou se tornar senil na sociedade é perder grandes e muitas inovações, é não conseguir entender muitas da ações, é ver e não enxergar muito do que se existe, do que se faz, do que se quer produzir. As pessoas têm medo, e elas têm muito medo... A velhice é uma realidade e com ela vem todos os problemas de saúde que você pode imaginar, vem preocupações novas em tempos de um propenso Alzheimer, vem distúrbios em época de uma fraudulenta osteoporose, ou uma crise de diabetes; alguma coisa relacionada à sua pressão alta.

Programas do governo são criados exclusivamente para eles (à melhor idade); são ações, todas elas, tentando proporcionar o maior conforto e poupar ao máximo o gasto de energias, já que quando chegamos ao fim de nossas vidas (ou quando tendemos a tal), nossa energia é escassa, nossas demandas são menores, nosso poder é entregue...Será que o é?! Será que nós, jovens, não subestimamos demais a velhice, e vemos nela somente pontos frágeis (uma debilidade marcada socialmente), coisas que nos deixam ainda mais severos com esse momento de nossas vidas? - a única coisa que sabemos é que  os programas são necessários. São importantes!

Olhamos ao nosso redor e podemos notar o quão medrosos somos, corremos atrás de poções mágicas, de cosméticos cada vez mais instigantes, daqueles que prometem grandes consertos, ou acertos em nossa face. Vemos por todos os lados os padrões da beleza, os quais nos amedrontam até mais que a juventude que é nos retirada sem licença alguma. No entanto, não paramos nenhum momento que exista para indagarmo-nos, para nos perguntarmos, para refletirmos, até onde vai tudo isso, até onde meus pensamentos estão certos. 

Ser ou estar velho tem sua beleza, como toda fase que passamos; cada uma tem seus aspectos bons e ruins; cada estação do ano tem suas características; a idade que vem também tem as suas - seus tons. É nisso que precisamos olhar, nossos desejos são outros, nossas metas são diferentes; a velhice é apenas outra etapa, talvez a última, mas a é, é apenas mais uma, que deve ser vivida, sorrida, bem-sucedida, deve ser muito bem apanhada; é época de colhidas, de frutos maduros, de pensar tudo que se viveu, de tudo que se tem, e de todas as rotas que se escolheu. É uma época como outra qualquer. 

Depois de algum tempo sentado ali, quase defronte a dois senhores (uma senhora, muito enrugada, e um senhorzinho, um pouco mais hábil de suas ações), dei-me conta de que meu maior medo era o de se tornar velho. Ser um senhor um dia me arrepiou as vértebras. Levou-me a um patamar de consciência que eu jamais tinha chegado; fiquei em choque. A senhora que sentava ao lado do seu velho, parecia tão debilitada, tão incapaz de se propulsionar, tão entregue àquela cadeira, aquele acento, que mais parecia consumi-la. Notei que seu tempo era devagar; crianças que brincavam logo à frente tinham um tempo muito mais acentuado, detinham de celulares digitais, entendiam como ninguém as chamadas que eram feitas por uma moça que volta-e-meia vinha chamarmos para as consultas. E, eu percebia que a senhorinha precisava de ajuda para se locomover, para se dar qualquer que fosse o movimento. Tinha em seu rosto todos os traços de uma vida, e que eu já enxergava de longe, que tinha sido uma larga vida, de propensos sofrimentos, de trabalho árduo, de perdas, de ganhos, de vindas, de despedidas, de derrotas e lucros... Notava-se claramente que ela merecia todo o respeito, todo o respeito que qualquer um ali tinha em seu cerne. Ela merecia ser atendida primeiro, não poderia ficar esperando nenhum minuto por aquela consulta; sua idade era avançada, percebia-se isso, ela tinha de ser a preferência - estava mais do que certo. Mas, poucos que ali estavam olhavam-na da maneira como eu a via, como a enxergava; eu conseguia vê-la num aspecto histórico, ensurdecedor para a maioria, que apenas estavam ali competindo para ser atendida, infelizmente.

Senil ou não, todos merecemos respeito, mas estar no cume da colina da vida é saber que se passaram horas, dias, semanas, meses, anos, décadas, ouvindo, dançando, sorrindo, chorando, dormindo, comendo, transando, sofrendo, engordando, emagrecendo, andando, correndo, plantando, cortando, desejando, ultrapassando, superando, caindo... É um tempo que merece reflexão, que merece padecer eucarístico, que merece paz, que merece ser feliz.





                                                     Obrigado por ler até aqui!  ;)

 

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