Um caminhão passava, o ronco do motor acelerado deixava para trás apenas uma sacola plástica que com certeza fora despida de mãos humanas, e com ela uma mútua sombra empoeirada subia deixando o lugar inóspito. À beira da estrada numa cadeira de área estragada faltando algumas cordinhas estava sentado um homem que não parecia ter vida.
Ele olhava atentamente o horizonte. Tudo era seco e opaco, a poeira levantada sentava-se nele e ali ambos permaneciam unidos. Estático. O olhar congelado chamava atenção das pessoas em um veículo e outro que passava ali de hora em hora. Achavam-no estranho.
Não havia vida. Não havia movimento. Havia sol. Resplandecia. Iluminava os dias, trazendo energia e uma gama de sensações.
O homem continuava sentado. Morto? Não. Ele mexia um dos dedos dos pés, e volta e meia um sorriso de canto da boca o exaltava com um suspiro profundo e depois ele tranquilizava. No que pensava, então?! Era o que as pessoas dos veículos de hora em hora também queriam saber. A moça de colar de pérola falsificado que passava todo dia pela manhã se dirigindo ao lado leste do caminho morria de curiosidade; porém, um medo maior destruía sua astúcia em querer parar seu carro para perguntar alguma coisa. Seguia sempre em frente.
E o olhar continuava fixo. Nenhuma mudança. Tudo parado. Estático. Um sol de rachar. Ele se protegia apenas com um chapéu de pano velho borrado de marrom. Tinha queimaduras estranhas, e alguns roxidões pelos braços que sempre estavam entreabertos e jogados na cadeira.
O sorriso se fizera presente por um minuto. Mas exatamente por um minuto. Não portava relógio, no entanto, como se o tivesse em mente. Um minuto se passou e seus lábios voltaram ao normal; sério.
O homem olhava atentamente o sol se pôr. Um laranja mesclado aos tons rosa e vermelho tornavam o céu estranhamente bonito. E ele sorria de novo - mais uma vez. Seria apaixonado pelo sol?
Anoiteceu. Levantou-se. Tomou sua cadeira. Deu dez passos. Sumiu.
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