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Reencontro



As ondas chegavam mansas, bem serenas e amáveis. Eu olhava aquele infinito; era lindo! Uma ilha transcendia uma paz a duas milhas dali; pássaros também se faziam presentes. Aliás, eles eram quem davam a sonoridade daquele lugar. Era uma água salgada que me batia às canelas, apaziguando minha alma enquanto eu caminhava naquela areia fofa e dotada de sentimentos positivos.
Naquele momento talvez eu não soubesse ainda esquecer, ou talvez, não quisesse mesmo deletar da minha memória aquele que afogueava meu coração. Estava ali mais para distração, pois na praia eu era livre e podia correr, gritar e ninguém me conheceria a ponto de criticar meus berros e saltos desvairados.
Simples assim... Eu pensava nele, naquele que tinha me deixado há alguns meses por um motivo que eu me revelava de culpa. Eu o queria, queria sim; porém, naquela hora, nem mesmo sabia onde ele poderia estar.
Aquela maresia gotejava-me os cabelos; eram frescas e me tiravam desses pensamentos incabíveis. Eu queria apenas esquecer de tudo, das brigas, das intrigas, das palavras malditas, dos semblantes ofuscados, das imagens que me machucavam. Mas não era fácil... Era... Complicado!
Um pássaro pousou perto de mim. Ali, ele permaneceu e me olhou nos olhos. Foi um instante mágico, talvez interessante — nunca havia olhado nos olhos de um animal. No entanto, aqueles olhinhos castanhos de um pequeno canarinho trouxeram-me um reconforto tão imenso que eu pensei estar no céu; nas nuvens. Esqueci de tudo!
O olhar daquele pequeno animal era tão doce e acalentador que eu pude desfrutar de instantes de tréguas e de paz. Declinei a cabeça para o lado e ele me acompanhou como se estivesse entendo o que eu estava e tinha passado até aquele momento. Melhor do que um ser humano; aquele olhar confidente me segurou e me provou que eu estava no lugar certo para esquecer dos infortúnios.

Chorei. Não porque fiquei mais triste; pelo contrário, chorei de emoção em notar como uma bichinho tão pequenino transmitia uma preocupação com o outro. Outras lágrimas marejaram-me e eu sentia um alívio infindo dentro de mim, como se estivesse próximo de um colapso e morreria, ali mesmo, para sempre serenar  na paz e na tranquilidade da morte.
Num rompante, o canarinho saltou sobre mim. Levei um susto! Pensei que seria atacado! Mas pelo contrário, ele pousou em meu ombro direito e começou a cantar. Neste instante de confiança, percebi que precisamos acreditar que a bondade existe e que nem sempre a vida é tão ruim assim. Por que aquele pequeno animal tinha tanta confiança em mim?
Já não sabia mais responder a esta pergunta, porque ouvia sua suave canção a ressoar em meus ouvidos, em que notas e mais notas se faziam presentes, tornando-se num uníssono cativante e delirante, que me fizeram dobrar as pernas e sentar na areia, delicadamente, enquanto as ondas lavavam meus pés, e o canarinho permanecia em mim, olhando-me de soslaio. Fechei os olhos!
Uma energia boa me reconfortava, estava mais que recuperado, estava cheio de bons sentimentos; meu coração parara de doer.
De repente algo me tocou. Não pude notar o que era, estava por trás. Eu de olhos ainda fechados, tive a curiosidade em voltar-me e ver do que se tratava; porém, o canto do canarinho não me deixava. Até que outro toque se deu, fazendo com que o pequeno animalzinho pusesse voo, desfazendo a melodia que eu estava amando contemplar.
O passarinho se foi, e eu o perdi em meio aquela vista belíssima que fazia diante dos meus olhos já abertos. Voltei-me para trás.
Deparei-me com um semblante conhecido, ou melhor, mais que conhecido. Era ele... Ele... Meu grande amor, ali, tão perto de mim, que tive a necessidade de piscar várias vezes a fim de acreditar no que meus olhos estavam me retornando como imagem real.
Levantei-me imediatamente, pus a olhá-lo, e tentar confiar no que via. Não era verdade... Como poderia ser verossímil? Mas era sim, era mais que real, era carnal; ele estava ali, em minha frente, e melhor, com seu sorriso, pelo qual me apaixonei de novo perdidamente.
Abracei-o e senti meu corpo no seu. Seu afago me percorreu as vísceras e enalteceu meus sentimentos. Quase explodi com a tamanha surpresa e felicidade. Ele estava ali, tão próximo e tão próximo. Beijei-o.

O canarinho voou longe, deixando para trás pensamentos positivos e uma sensação inovadora que me fizeram reencontrar o meu amor.

Abaixo mais uma de minhas paixões (desenhar)... um dos meus desenhos mais representativos do amor entre duas pessoas do mesmo sexo!


Imagem com direitos autorais (peça autorização escrita de Bruno Silva (B.S.) antes de usá-la). Lei nº5.988

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