Deitados olhando as estrelas, Alice e Pedro brincavam de como seriam seus filhos. Imaginavam a cor dos cabelos, dos olhos, da pele, o formato do rosto, como seria o nariz, se teria os dentes largos dele, ou a boquinha pequena dela. Casados há dois anos, sempre tiveram a vontade de terem um filho, ou uma filha, o que viesse seria muito bem vindo e teria, com toda a certeza, muito amor.
Olhavam aquelas que iluminavam o pequeno espaço denso e calorento em que viviam. Pensavam agora no enxoval, na festa de recepção do bebê. Espere. Existe festa de recepção de bebê? Bom, se não costuma ter, eles dariam uma, até porque, aquele filhou, ou filha - como já dito -, seria muito especial.
Um riso, uma carícia, uma vontade de um beijo. Assim fizeram. Outra sonhada. Agora, pensavam na hipótese desse filho nascer imperfeito. Como assim imperfeito? Ah, sei lá, com alguma síndrome, por exemplo.
Alice se esquivou, disse que não queria um filho imperfeito, que se, nascesse assim, preferia não ter. Pedro estremeceu. "Como assim? Como assim prefere não ter?" Ela não ousou responder, mas pensou logo nas dificuldades que teria caso seu filho ou filha viesse ao mundo com uma Síndrome de Down, por exemplo.
Mas ele insistiu. E fez pior.
"E se seu filho nascesse gay? O que você faria?"
Foi a vez dela estremecer.
"Está louco, Pedro? Essas coisas não nascem com o indivíduo não! É safadeza, mesmo."
Estarreceu ele por alguns instantes.
"Alice, eu não sabia que você era tão mal entendida desse assunto. Logo você, uma administradora, frequentou o ensino superior, esteve em meio a muita gente, conversou com tantos gays, lésbicas e afins, e ainda vem me dizer que não nascem assim?"
"Eu acho que devemos parar de discutir uma coisa que não nos pertence. Deixe isso para os que têm filhos nesta situação, não sou nem um pouco altruísta para querer, agora, defender universo gay, Pedro."
"OK, Alice. Se é assim que você deseja, não toquemos mais neste assunto, então."
Um ano depois...
"Oi, amor, este é o doutor Saulo", apresentou Pedro à amada.
"Oi, doutor. Vamos logo com isso, que eu quero ver como está meu filho." Alisou a própria barriga, carinhosamente.
"Bom, acredito que seu filho terá algum probleminha congênito, Alice."
"Traduz, doutor. O que isso quer dizer?", já suava frio.
"Provavelmente alguma síndrome."
Chorou...
Se você conhece alguma história parecida e quer deixar seu relato, comente aqui embaixo. O preconceito e o medo pelo diferente existe, pessoal. E está muito presente!
"SER DIFERENTE É NORMAL!"
FOTO DE AUTOR DESCONHECIDO
Emocionante.....Realmente, já ouvi muitas opiniões como essas. É triste saber que as pessoas realmente precisam receber esse "tapa na cara" da vida para entender muitas coisas, mas ao mesmo tempo é bom saber que elas podem aprender que o preconceito e a rejeição não levam a nada.
ResponderExcluirEstou com o coração dolorido. Lindo texto Bru!
Muito obrigado pelo carinho, Lu.
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