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Nus na praça

Sentados, um olhava o outro. Ninguém passava por ali; nem mesmo uma brisa. Tudo parado, estagnado e imutável; ou melhor, somente eles, aparentemente apaixonados. Olhos nos olhos! O adentramento eloquente, o qual tinha o poder de contagiar qualquer um que ali estava como espectador, ou, qualquer coisa que ali estava os espiando. Em flama, estavam ambos olhando o horizonte, as árvores; uma mata rasteira espinhava os pés descalços e suficientemente suaves para se arrepiarem com o toque áspero da gramínea. No entanto, o arrepio maior vinha dos dedos esguios, exuberantes e macios que deslizavam a carne, tocavam-se - pele com pele -, uma mão doce e serena acariciava o rosto; a outra tocava o dorso, e as espinhas se contorciam num compasso romantizado e ruborizado. Apaixonaram-se!
Estavam mais. Estavam vivendo um veemente amor que os detinha de uma maneira descontroladora, impulsora e natural. Aliás, amar é da natureza humana; amamos continuamente e vivemos por ele; buscando sempre a felicidade. E era isso; exatamente isso que eles queriam: a felicidade - mais do que nunca. A felicidade. Almejavam-na, pleiteavam-lhe em sua dimensão macro e micro, interiorizada, e externamente arrebatadora. Queriam viver o amor que os tinha dado com muita felicidade, numa saciante serenidade, pois a paz também é um dos meios de ser feliz. Amor, paz e felicidade são sentimentos atrelados. Continuaram sentados; abraçados. Beijavam-se. Saliva encontrava saliva, e um hálito puro e embriagador os tomavam cada vez mais. A praça era pública; não tinha ninguém além deles; um crepúsculo se fazia; apenas seus movimentos se perpetuavam; nem mesmo os insetos se mexiam. Era apaixonante vê-los. O mundo parou. Todos pararam para tê-los sobre as gramíneas envolventes, cheias de vida e testemunhas do mais inquietante e verdadeiro amor. Os dois nus, caídos ao verde, romantizados, sôfregos pelo prazer carnal. Tudo era muito lindo, tudo os agradava - num mundo perfeito -, pois até a lei da gravidade os favoreciam, proporcionando as forças que os mantinham presos um nos braços do outro.


Comentários

  1. Adorei!!!

    Realmente tenho que comentar que o espaço e cada coisa que estava ao redor deles foi sendo ilustrado na minha mente, inclusive as sensações.

    Muito bom texto e o que ele passou para mim...

    Parabéns Bru! Continue a escrever

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    Respostas
    1. Obrigado, Luna! O carinho em suas palavras também transcorreram emoções em mim, é importante para um iniciante na arte da escrita obter estímulos! A intenção deste texto é mostrar a palavra "eles" referindo-se tanto a um casal hétero como homossexual. Você conseguiu notar isso? Ou você acha que ficou mais explícito que fosse homossexuais? Gosto de discutir sobre meus textos! Grande abraço.

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    2. Siim, eu realmente percebi isso....

      "Os dois nus, caídos ao verde, romantizados, sôfregos pelo prazer carnal. Tudo era muito lindo, tudo os agradava, num mundo perfeito, pois até a lei da gravidade os favoreciam, proporcionando as forças que os mantinham presos um nos braços do outro." Lindo, lindo...consigo sentir a emoção, a liberdade e tive a sensação do que a lei da gravidade proporcionou.... Abraço Bru!

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  2. Fico feliz por ter dado esta emoção! Abraço...

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  3. Respostas
    1. hahaha... Que bom tê-lo por aqui, Danilo. Vou postar mais textos como esse assim que me vier disponibilidades, provavelmente fim desta semana publicarei outro com o mesmo teor.

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